18/06/2007
Os maquinários da cooperativa estão em permanente conservação, na expectativa de um retorno ao mercado
Quem acompanha a história da Cooperativa dos Produtores de Leite da Região Norte Fluminense (Cooperleite) ao longo dos seus 43 anos de fundação, se entristece ao ver as portas de uma tradicional instituição fechadas, sem gerar empregos e sem movimentar a economia leiteira. Ainda assim, mesmo sem funcionar, os cuidados com a conservação do maquinário e da própria estrutura, leva a crer que a qualquer momento possa voltar a operar. Com um passivo que gira em torno de R$ 12 milhões, a Cooperleite encerrou suas atividades há um ano e espera, desde então, a liberação de recursos do fundo especial do Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira no Estado do Rio de Janeiro, criado no ano de 2005, durante a gestão da então governadora Rosinha Garotinho.
A liberação desse recurso pendente, o incentivo da Prefeitura de Campos e o apoio do Governo do Estado são soluções viáveis, segundo o presidente da cooperativa, Ranie de Sá Barreto, para a reativação do parque industrial que já chegou a processar até 150 mil litros de leite por dia com quase mil cooperados. “De repente, se a prefeitura adquirisse os produtos da Cooperleite para os hospitais públicos, escolas e instituições municipais, acenaria como uma solução para o setor. E o estado também tem meios de incentivar através de linhas de crédito e até com a liberação de recursos que esperamos receber, para acertar a vida financeira da instituição”, explica o presidente da cooperativa.
A sugestão em fazer com que a prefeitura ajude na reativação da indústria está em o poder público municipal adotar o leite da região e os produtos fabricados pela Cooperleite, como o próprio leite, manteiga, queijo, coalhada, requeijão, entre outros derivados, na merenda escolar e na alimentação dos hospitais e unidades de saúde da rede pública, mantidos pelas fundações João Barcellos Martins e Geraldo Venâncio. “É um meio de valorizar o que produzimos em nossa região ao contrário de abrir espaço para que o leite de Minas Gerais seja produto da merenda das escolas municipais de Campos, quando a cidade possui uma indústria de importante tradição e respeito, como a Cooperleite”, frisa Ranie Barreto.
Quando assumiu a cooperativa, há dois anos, o atual presidente encontrou inúmeras irregularidades como uma folha de pagamento em quase R$ 300 mil com um quadro de funcionários de 200 pessoas. Hoje, se voltasse a funcionar, ele afirma que seriam necessários apenas quatro empregados para processar 60 mil litros de leite por dia, ou seja, quase a capacidade total da cooperativa com um número bem reduzido de pessoal e com a folha mais enxuta.
Tradição caindo no esquecimento
Coincidentemente, no momento em que a reportagem de O Diário conversava com um dos vigias da Cooperleite, uma senhora do município de Trajano de Moraes descia do carro para comprar um carrinho de mão, produto também comercializado pela cooperativa, assim como outras utilidades para trabalhadores rurais, como botas, luvas e pá. “Todo dia tem gente que vem do Rio de Janeiro e de cidades a região procurando os produtos da Cooperleite. Coalhada, requeijão e manteiga eram os mais procurados e, às vezes, tinha até briga quando a quantidade era pouca. Hoje dá pena ver tudo acabando, funcionários desempregados e pecuaristas sem ter para onde levar o leite produzido. Espero que volte a abrir as portas e a trabalhar como antes, com filas de carros aqui no portão com gente procurando nossos produtos”, fala emocionado Anselmo Abreu da Rocha, de 56 anos, que dedicou 36 deles à empresa trabalhando como vigia. E enquanto a situação da Cooperleite está indefinida, caminhões, carros, máquinas e tanques de resfriamento vão sofrendo a ação do tempo. Um leilão do patrimônio da cooperativa é totalmente descartado pelo presidente da empresa porque, segundo ele, os bens são garantias para pagamento de dívidas. “Não há como levar a leilão bens que estão penhorados. Estamos buscando soluções como uma futura parceria com a prefeitura ou quem sabe, com a Parmalat, montando uma unidade da indústria dentro da Cooperleite. Ainda estamos estudando como resolver os problemas e voltar a operar”, conta Ranie.
Pessoal, hoje, reduzido a 2 vigias
O quadro de quase 20 funcionários, hoje está reduzido a dois vigias que trabalham em regime de revezamento e os produtores que forneciam leite para cooperativa, estão vendendo para a Bon Chef, em Casimiro de Abreu; Parmalat, em Itaperuna; Selita, no Espírito Santo; fábricas de fundo de quintal e empresas no Estado de Minas Gerais. A visão que se tem do parque industrial é de total abandono. A inviabilidade na manutenção dos seus serviços, salários altos e dívidas com fornecedores, foram fortes fatores na decadência da cooperativa de leite. Para o presidente da Cooperleite, a idéia de reativação da Cooperativa Central de Produtores de Leite (CCPL), no município de São Gonçalo, na Baixada Fluminense, “foi uma ilusão para os fornecedores e mais um ato político do que uma iniciativa para beneficiar o produtor”, disse Ranie. Com incentivos fiscais concedidos pelo Governo do Estado, a empresa voltou a operar com o leite da região, mas não manteve sua produção. Depois de três anos parada, retomou as atividades, porém ainda deve à fornecedores de Campos. Por telefone, o secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento e Pesca, Christino Áureo disse que não há pendências do governo estadual com a Cooperleite. “A situação da cooperativa de Campos é complicada, que depende de uma série de fatores. O que podíamos fazer foi feito. A Cooperleite tem é que encontrar o caminho certo para equacionar suas dívidas, porque o Estado concedendo créditos tributários concedeu sua parcela de ajuda”, explica o secretário.
fonte: ODIÁRIONF
segunda-feira, 18 de junho de 2007
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